Placa à entrada da aldeia, de Miguel Torga, in “Diário VII, 3ª edição revista, pág. 185/186”
Brava era a Avelã. Em tempos porventura remotos, que difícil é sempre medir o Tempo, em tempos que outros valores se parecem levantar. Deles entretanto fala sempre a natureza agreste da Terra Fria, onde quentes são as gentes e os modos como nos recebem e acarinham. E há os cheiros e os sabores, misturados com os vinhos, as aguardentes que temperam os repastos a qualquer hora. Porque andamos sem relógio, sem tempo determinado, sem aquelas obrigações que tolhem o dia-a-dia e, por vezes, as consciências. Recordamos os tempos da Guerra Civil espanhola, onde tantos resistentes foram assassinados, a aldeia guarda as memórias de algumas e alguns que defendiam a liberdade sem fronteiras, quando estas eram implacáveis para quem ousasse atravessá-las. Lembramos tempos em que o contrabando era uma arte, de fuga às regras das ditaduras de cá e de lá. De trás dos montes surgiam de quando em vez, sinais de revolta às tiranias, dos ecos poderiam falar as velhas pedras, caso lhes fosse possível o devaneio. O Pinto que o diria, se cá ainda estivesse, as estórias que contaria, das fugas e das traições, das cumplicidades dos camaradas das mesmas lutas de outrora e que hoje nos conta o Zé, nosso anfitrião. Ele e a Carminda, amigos de longa data, que souberam transformar as casas antigas em atraentes lares de refúgio, que desafiam a paisagem da albufeira, acrescentando valor ao belíssimo enquadramento daquela com a serra. Não há nada que falte, está tudo lá, a terra faz o resto: o limonete e o hipericão do Gerês, para o chá, a couve para a sopa, o tronco para a lareira., que quente faz o frio lá fora. Lembro Miguel Torga que à entrada da aldeia, atesta na pedra. “Por mais que tente, não consigo reduzir estas vidas de planalto a uma escala de valores comuns…”
Avelã Brava, Negrões, uma força incomensurável da Natureza…
Publicada por Alf em Rio Torto a 12/12/2010 07:31:00 PM
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