12 de abril de 2011

Dois dias e duas noites na Casa Avelã

 
 
Dois dias e duas noites na Casa Avelã foram como um curto regresso ao fundamental. Lembra o lago Walden, brilhantemente descrito e vivido por Thoreau na ânsia de captar todo o vigor da vida.
O dia trouxe passeios serpenteantes pela beira do lago, ouvir os insectos, as vacas e os cães que as guardam, sentir as pedras aquecidas por uma luz mais próxima e menos filtrada, pedras que nascem da margem e fazem a aldeia vazia das gentes que já estavam nos campos e nos pastos. O calor que vai passando para o corpo é tranquilizante e ao mesmo tempo motivador. Sentimo-nos bem e com vontade de arrebatar o máximo à nossa volta, pois cada percepção traduz uma paisagem digna de ser emoldurada.
A noite traz o frio que faz sentir a vida do corpo deixando-nos mais ligados ao ambiente que nos rodeia, traz também a poluição das estrelas que parecem transformar o céu numa tela elaborada pelo método do pontilhismo. A partir deste momento somos servos e aprendizes da Natureza, constatamos que o lago possui a sua ínfima sabedoria e ansiamos por bebê-la. No entanto, cada questão levantada faz-nos duvidar do orgulhoso conhecimento racional, ao mesmo tempo que descemos do pedestal da Humanidade e aproximamo-nos cada vez mais de um ecossistema único, do Todo que cria e destrói. Voltando a Thoreau: “A Natureza não põe nenhuma questão, nem sequer responde ao que nós, mortais, perguntamos”. Pode parecer que nos toma com indiferença e provavelmente terá razões para isso, mas aqueles dias em Negrões foram uma tentativa de viver deliberadamente aquilo que é essencial.

Marco António (Abril de 2011)

Sem comentários:

Enviar um comentário